DUAS DE LETRA

ETC E TAL

DUAS DE LETRA

Maria de Lourdes dos Anjos

Gente com

gente dentro

Juro que não me apetece perder tempo a escrever sobre esses animais de vinte unhas que por aí se pavoneiam e depois descansam em lugares mal frequentados, poluídos pelos ventos da incompetência, malabarismo financeiro, oportunismo político, desfaçatez moral etc e tal, mas não aguento calar esta rebeldia, esta rebelião, esta revolta sei lá o que chamar a isto que me dá volta às tripas, aos miolos e me põe de cabeça para baixo, a mim que já não estou em idade de fazer o pino.. ora leiam, por favor...

O senhor major Valentim resolveu oferecer uma medalha de ouro da cidade de Gondomar ao senhor bispo do Porto...será que estas ofertas dão para pagar pecados mortais e capitais e livrar os filhos da mãe de ocuparem o lugarzinho a que tem direito no inferno?

Estaria presente o nosso raminho de Oliveira, e o senhor Jorge da Costa? Fico descansada se tiverem sido perdoados e abençoados, gosto de santos ao pé da porta.

E o senhor Isaltino já escolheu o hotel prisional para passar férias, ou continua gozando da sua belíssima libertinagem pelos caminhos de Oeiras?

Já agora, porque razão não há, ou dizem que não há, juízes portugueses com competência para julgar o senhor Vale e Azevedo?

Claro que ele sabe e os amigos também sabem o que ele vale e nem vale a pena falar mais deste assunto.

Recentemente, tomei conhecimento pela imprensa, com um lápis azul pequeno e rombudo, que um tal senhor Lello, com um empregozinho em S. Bento, também se esqueceu de declarar ao fisco uns milhares de euros (600 mil) duma sua conta bancária no BCP; dinheiro molhado com o suor do seu rosto mas em nome da sua digníssima e poupada esposa, e aplicado num banquito gerido por uns pobres como ele que tal como o senhor Aníbal mal ganham para as despesas.

Começo a desesperar por tanto esperar que Liberdade seja uma palavra com sentido obrigatório e verdadeiro no meu país. É urgente termos bons exemplos de boa gente a morar nos lugares cimeiros de Portugal.

Pessoas como Ramalho Eanes que, em 2011, recusou uma indemnização superior a um milhão de euros, decidida a seu favor pelo tribunal e ofereceu a verba a casas de solidariedade infantil.

Mais recentemente um nosso compatriota, de apenas 48 anos de idade mas com 8400 séculos de honestidade, recusou o prémio de 3 milhões de euros do banco onde trabalha, em Londres, porque tinha havido uma quebra da sua produtividade laboral por doença...chama-se António Horta e Costa e deu-me gozo saber que ainda há gente rica de valores, sem ter penhoras nos bolsos, com ética, caráter e nome português.

Finalmente, obriga-me a minha alma tripeira a referir um senhor que ama a cidade que o abrigou e dela se orgulha: Júlio Magalhães.

Numa longa entrevista, refere que há na TVI, muitos jornalistas que não conhecem a estação do Porto, nunca cá vieram, não percebem que ao norte não são dados os mesmos meios para trabalharem e quando há uma falha, os "colegas" lisboetas chamam incompetentes e até atrasados mentais aos trabalhadores do Porto.

Diz ainda que, a maioria dos senhores da capital apenas sabem os caminhos para o aeroporto e para as praias do Algarve. O resto do país não conta, não interessa, não precisa ter voz. À moda do Porto só tenho uma palavra para classificar esta corja: badalhocos!

Hoje, quando só dos fracos reza a história, gostava que estes três exemplos de dignidade e honradez ficassem registados neste “Etc e Tal”.

Não quero terminar sem transcrever umas palavras mais do Juca Magalhães:

"Os diretores de informação que conheço, são amigos dos políticos, vão almoçar, vão jantar com eles. Eu, lidei pouco com eles. Não me tornei amigo deles. Recusei um almoço com Passos Coelho e nunca conheci José Sócrates. Não confio na maioria dos políticos".

Precisamos desta gente com nobreza e lealdade. Eu ainda não acredito que vamos conseguir que das cinzas mortais e do lixo financeiro renasça o nome de Portugal!

O norte, o País inteiro, precisa de gente com gente dentro.

Cidade Magoada

Vidros estilhaçados em esventradas janelas
Tantos sonhos esvoaçando, tentando espreitar por elas
Cortinas rasgadas, acenando, num constante vai e vem
Paredes gastas, sem cor, sem calor, sem ninguém
Tijolos e tábuas desacertadas mascaradas de portas
Aprisionando palavras, rostos e estórias mortas
Retratos de almas vagabundas, desencantadas
Que habitam casas cheias de ninguém, abandonadas.
A cidade vai-se tornando mais triste, mais velha e sombria
Longa noite que apaga a madrugada e se recusa ser dia
Eterno inverno agreste, ventoso e desesperadamente frio.
Corpo de granito, nevoeiro, solidão, silêncio sombrio
Ossada esquecida nas ruas tristes, e cheias de nada
Onde vagueia a alma tripeira, prostituída e amordaçada.
De S. Vítor, das Fontainhas, da Corticeira, da Sé, do Bonfim
Renascerá outro Porto com sol, alegria e esperança sem fim.
Destes farrapos esquecidos se fará outra nobre e leal cidade
E do leito do Douro vai emergir um grito de plena liberdade.