Está fechado há um ano…
E se o “Batalha” cair
no “Reino de Deus” ?
O cinema Batalha, no Porto, está encerrado há, precisamente, um ano. Encontra-se vandalizado exteriormente, é abrigo para os sem-abrigo, é cinema sem cinema…é, no fundo, mais um espaço de cultura ao Deus dará.
O “Batalha” foi uma das mais nobres salas da Invicta destinadas à sétima arte.
Situado no coração da cidade, ou seja na praça que lhe dá nome – e vizinho do Teatro Nacional de S. João -, ninguém sabe que futuro dar a um edifício com história.
Por mais estranho que pareça, há, contudo, propostas em cima da mesa, só que ninguém decide o que quer que seja. Segundo se diz por aí, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) parece estar interessada no imóvel, como em tempos já esteve pelo Coliseu do Porto. Será?
A história recente do cinema Batalha tem sido atribulada.
Depois de seis anos encerrado ao público, o espaço, propriedade da empresa “Neves & Pascaud” reabriu em maio de 2006, por arrendamento, ao Gabinete “Comércio Vivo”, numa parceria entre a Câmara Municipal do Porto (CMP) e a Associação dos Comerciantes do Porto (ACP) e lá tinham diversas valências, a passar por BAR, restaurante, sala de espetáculo com mais de 900 lugares e ainda a “Sala Bebé” com capacidade para cerca de cem pessoas.
Tudo uma maravilha. Uma maravilha, contudo, com grande carga de responsabilidade, até porque se iria gerir qualquer coisa como cinco milhões de euros disponibilizados pelo “Grupo Amorim”, isto para compensar a inclusão de um centro comercial no Plano Diretor das Antas.
Mas, as coisas não correram como o previsto, e, passados quatro anos de múltiplas atividades (até comícios lá se realizaram) o espaço acabou por encerrar, precisamente, no dia 31 de Dezembro de 2010, altura em que o Gabinete “Comércio Vivo” entregou as chaves aos proprietários.
Fechava-se, assim. Mais um ciclo na vida do Cinema Batalha, que entretanto, tem passado pelas mais caricatas situações.
“Vertente cultural não
terá viabilidade”
O facto de se encontrar no coração da cidade do Porto, o imóvel é apetecível, mas não, pelos vistos, e de acordo com o advogado da empresa proprietária do “Batalha” para fins culturais, pois segundo o senhor, e em resposta a uma decisão da Direção Regional de Cultura do Norte de expropriar o local, referiu, à Agência Lusa, que “a vertente cultural não terá viabilidade”.
Ora, qual será a viabilidade para ressuscitar o “Batalha”, quando a CMP cedo se colocou de parte quanto à compra do imóvel?
“Sei que há empresas e instituições interessadas em negociar com a Neves&Pascaud e uma delas, nada tem a ver com a cultura: a Igreja Universal do Reino de Deus. Mas também sei que há outras hipóteses. Uma para ser um grande espaço de cinema, e outra um Centro Comercial”, disse-nos fonte credível e que se encontra a par do processo.
Segundo a mesma fonte, “a IURD apresenta-se como potencial arrendatário. Eles já quiseram o Coliseu do Porto, e depois de o perderem, nunca desistiram de criar a sua sede no centro da cidade, como acontece em Lisboa, e em plena Avenida da Liberdade. Ali não falta dinheiro, e a empresa proprietária veria, com certeza, com bons olhos esse negócio, uma vez que estamos em tempos de crise e dar vida àquele espaço seria muito bom para eles”.
“Max-Batalha”
Seja como for, outras propostas foram entretanto, apresentadas, como solução para ressuscitar uma sala com história na cidade do Porto.
Um dos projetos apresentados à Câmara Municipal do Porto foi da “Multimax” em parceria com a “Mediaplex”.
A proposta assentava nos seguintes princípios:
A CMPorto comprava o “Batalha”. A “Mediaplex” oferecia consultadoria do “projeto-Multimax” à autarquia que otimizaria o cinema de acordo com a Consultadoria Audiovisual e convidava, por fim, a “Mediaplex”, mediante um contrato de prestação de serviços audiovisuais especializados a prestar serviços de gestão e programação com base no projeto “Multimax”.
Um pouco confuso este projeto, dirão os leitores, só que, na verdade ele seria inovador, uma vez que introduzia tecnologias audiovisuais inexistentes na região e que poderiam atrair os amantes da sétima arte.
Contudo, e tendo em conta as mais recentes e antigas reações, este projeto parece condenado ao fracasso, tanto pela CM Porto - que não quer comprar o “Batalha” -, como pela empresa proprietária - que revelou, publicamente, ser “inviável a vertente cultural” naquele espaço.
Fantas (esteve) interessado
Para “salvar” o cinema Batalha esteve ainda na “luta” o organizador do “Fantasporto”, Mário Dorminsky que colocou, há pouco tempo, a hipóteses de uma mudança temporária, ou efetiva, do “Fantas” para o referido espaço. Só que… - e nisto há sempre um “mas” – a “Cinema Novo”, entidade que assegura o evento internacional de cinema, sabendo que teria de investir qualquer coisa como 500 mil euros, para que fossem criadas as mínimas condições para a realização do festival, teve que afastar tal possibilidade.
E o “Batalha” continua ali a morrer de pé. Uma vergonha no centro da cidade!
“É por isso que penso que este presidente da Câmara não tem sensibilidade para tudo que carateriza a história do Porto, e muito menos para a cultura, isto se excetuarmos o La Féria que roubou a cidade a torto e a direito. É que mesmo não querendo gastar dinheiro, poderia se interessar por este problema, mas não! Mas também como está em final do mandato… que se lixe a coisa. Não é?!”
Disse o nosso entrevistado.
O “Repórter X”, bem como a nossa fonte credível que “ali está a preparar-se uma grande negociata”. Seja ela qual for, e como disse a nossa fonte “com o Reino de Deus ou até com uma grande superfície comercial, o que era um exagero naquela zona! Mas como por ali perto se encontra um número considerável de hotéis – um dos quais “matou” o Águia Douro” – há o Teatro Nacional de S. João… está tudo bem perto do centro e a dois passos da rua de Santa Catarina, ou para ali se vai rezar, ou comprar “ouro” ao desbarato”.
Salvo erro são proibidos casinos na cidade do Porto?!
Ou eram?!
Bem!
Casino Batalha? O nome até nem soa mal?!
“Hig Life”
Saiba que o Cine-Batalha, antes do o ser, tinha a designação de “Hig Life” e abriu as suas portas em 1908. Só em 1947 foi transformado através da obra do arquiteto Artur Vieira de Andrade, numa construção de referência da Art DEco em Portugal.
Poderíamos, entretanto, poderíamos dar a conhecer-lhe o número de cinemas que o já não são, e que viveram fazendo viver na e a cidade do Porto.
Oh… o cinema Foco, o Charlot, o Pedro Cem, os Lumière (2), o Trindade, o Rivoli, o Olímpia, o Coliseu do Porto, o Águia-Douro, o Odeon, os Stop (2), o Nun’Àlvares, o Sá da Bandeira, o “Terço”, o “Júlio Dinis”… e etc e tal…
Para já, o Batalha no “Batalha”
Repórter X
Foto: António Amen
(31-dez-11)